As primeiras terras do Cariri concedidas em datas de sesmarias, conforme documentos oficiais foram demarcadas na bacia do Riacho dos Porcos, no decênio de 1680-1690. De fato, em 1688, obtiveram terras naquela região Bento Correia Lima, Simão Correia Lima, Francisco Pereira, Maria Fialho, João de Barros Pereira, entre outros. Nenhum, porém, como se vê nos referidos documentos, ocupou sua terra no tempo determinado, razão pela qual novos pedidos foram feitos em 1703, quando se efetivou a posse das datas cedidas. Assim com os capitães Bento Correia Lima e João Dantas Aranha, cujas datas de sesmarias foram cedidas a 21 de março daquele ano. Bento e Aranha residiam em Goiania, Pernambuco. Sem designar data, João Brígido aponta Bento Correia Lima como o primeiro povoador do Riacho dos Porcos. Donde se conclui que as terras de Brejo Santo ocupam o primeiro lugar na descoberta e povoamento do Cariri.
Há uma tradição oral e escrita que afirma ter sido Dona Maria Barbosa a primeira proprietária da faixa de terra junto à qual se estende hoje a cidade de Brejo Santo. Segundo a mesma tradição, Maria Barbosa era baiana e viúva, mãe de dois filhos varões e dona de fazendas em Porteiras. Sua aludida propriedade, excepcionalmente rica em fontes perenes, seria gerida por um dos filhos, e o seu nome ficou vinculado definitivamente à terra. Com efeito, Brejo do Barbosa, nome autenticado na sesmaria pela qual o alagoano Antônio Mendes Lobato e Lira adquiriu terras daquela região, foi a primitiva denominação de Brejo dos Santos, mudada mais tarde para Brejo Santo.
É absolutamente certo que o povoamento de Brejo Santo começou simultaneamente no atual Sítio Nascença e na área do Poço, que é um dos atuais distritos do Município. O Poço, por motivo de ordem geográfica, não se desenvolveu. O estabelecimento das estradas dos boiadeiros, que partindo de Vila Bela, hoje Serra Talhada e de Cabrobó, passavam no pátio da Fazenda Nascença em rumo ao Cariri Novo, distanciou-o da nova rota dos povoadores do sul do Ceará.
Num documento muito antigo figura o nome de um dos primeiros latifundiários cujos domínios se estendiam àquelas paragens. Trata-se do testamento de Matias de Lima Taveira, lavrado no Sítio Tabocas, a 17 de agosto de 1750. Outro opulento possuidor de terras, cujas fazendas de gado vacum e cavalar estavam situadas no Poço, Porteiras, Pilar e Riachão, foi o capitão Bartolomeu Martins de Morais, português, casado com Ana Maria Ferreira, tronco dos Martins de Morais.
Ao antigo Brejo da Barbosa estava reservado o papel de embrião social da atual cidade de Brejo Santo, cujo marco histórico foi uma grande casa de taipa, no Sítio Nascença. Tal casarão teria sido edificado pelo tenente Gonçalo de Oliveira Rocha, casado em 2ª núpcias com Joana Martins de Morais, filha do capitão Bartolomeu Martins de Morais. A Fazenda Nascença posteriormente foi herdada pelo capitão Gonçalo de Oliveira Rocha Júnior (Gonçalinho), este casado com Joana Pereira Filgueiras, sobrinha materna do Capitão Mor de Crato e Governador d’Armas do Ceará, José Pereira Filgueiras. Do capitão Gonçalo nasceram nove filhos: Pedro, Francisco, Davi, João, Manoel, Cosmo, Antônio, Joaquim e Ana Inácio dos Santos. Daí porque surgiu o topônimo Brejo dos Santos.
De Manoel Inácio dos Santos, “um dos sobreviventes do ataque da Nascença”, nasceu Donina Maria de Jesus (Rita), que se consorciou com o major Francisco Pereira de Lucena, natural de Sousa, província da Paraíba. Deste casal descende a numerosa família Inácio de Lucena, mais conhecida por Chicote, que era o apelido daquele varão. São filhos do referido casal: José, Joaquim, Manoel, Pedro e Francisco Pereira de Lucena (Cel. Chico Chicote), cujos nomes estão ligados aos episódios que agitaram a política de Brejo Santo durante vinte anos, a contar de 1909.
O longo período que se estende do ano de 1714 à sexta década do século dezenove, caracteriza-se pela inoperância dos grandes proprietários daquelas terras férteis, no sentido espiritual, orgânico e construtivo. Realmente, naquela área territorial, a civilização claudicou por espaço de 146 anos, não ultrapassando o chamado ciclo curraleiro. Era o apego à vida rural, entravando a formação urbana. Jardim era a sede do poder civil. Por outro lado, o rincão estava subordinado à Comarca do Crato.
Até 1858, só havia duas casas na área da atual cidade: o prédio-logradouro dum curral de gado, de propriedade do Cel. Antônio Cardoso dos Santos, exatamente no local denominado Barrocão, e a vivenda de Antônio José de Sousa, casado com Senhorinha Pereira Lima.
Justamente naquele ano iniciou-se a formação urbana de Brejo Santo, com a chegada do varão José Francisco da Silva, procedente de Águas Belas, província de Pernambuco, que veio acompanhado de mulher e filhos. Logo depois, sobretudo por motivo de grave incidente com o Cel. Constatino Cavalcanti, chefe político daquela cidade, vieram juntar-se a José Francisco da Silva numerosos parentes seus. Assim é que, em datas sucessivas, aportaram em Brejo Santo, Inácio Gonçalves Bezerra (Inacinho), com seus filhos adultos João Gomes da Silva, Manoel Inácio Bezerra, Joaquim Inácio da Silva Torres, Carlota Maria Gomes, Félix Inácio Bezerra e Antônio Inácio Bezerra, Cândida Gomes da Silva, casada com João de Barros Cavalcanti; Maria Francisca Gomes da Silva, casada com o alferes José Pereira Nunes; Luzia Inácio Bezerra, casada em primeiras núpcias com Antônio Nunes Barreto; Ponciana Maria Bezerra, que foi casada e deixou prole; José e Anselmo Teles de Carvalho, em companhia dos pais e dos irmãos Estevão, Pedro, Maria e Catarina. Com o advento dos emigrantes água-belenses, gente forte e laboriosa, estava esboçado o povoamento da futura comunidade. Anos depois, outras famílias chegaram ao nascente povoado: os Sá Batinga, oriundos de Cabrobó, Pernambuco, os Pereira de Lucena e os Alves de Moura, vindos de Nazaré, no município paraibano de Sousa, os segundos em 1867, e os últimos e 1877.
Em breve, o grupo familiar de Águas Belas formou numeroso bloco parental, que, com o passar dos tempos, foi acrescido pela inclusão de novas famílias através de uniões matrimoniais. Desse modo, aquele grupo pioneiro estendeu seus ramos aos Lucenas, Alves de Moura, Araújo Lima, Leite Rabelo, etc., resultando a formação de um dos maiores clãs parentais, de consanguíneos e afins, do Cariri.
O aparecimento da gente de Águas Belas pôs fim à vida pachorrenta e sedentária dos antigos habitantes da gleba, cujo cenário modificou-se com a divisão dos latifúndios em propriedades produtivas, onde passaram a se desenvolver a agricultura e a pecuária. A primeira divisão territorial ao qual formou o município de Brejo Santo veio através da Resolução n° 1.023, de 14 de novembro de 1862, que dispõe sobre a criação do Distrito de Paz de Brejo dos Santos, pertencendo a Comarca de Jardim e assinada pelo então Presidente da Província do Ceará, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior. Com isso, logo se formou o centro populacional, com pequeno comércio e a construção duma capela sob a invocação do Coração de Jesus, iniciada em 1868, por ocasião da visita do missionário padre José Antônio Maria Ibiapina.
Em 1871 chegaria o primeiro professor de instrução pública primária no distrito de Brejo dos Santos. Joaquim Antônio Firmino de Souza leciona para os alunos do sexo masculino. Em 1874, chegaria ao arraial um inspetor de aulas, para auxiliar Joaquim Antônio no ensino. Ele se chamava Joaquim Ignácio da Silva Tavares. A primeira professora pública para a cadeira do sexo feminino seria Balbina Lídia Viana Arrais, iniciando suas atividades em 1898.
Cinco anos depois, o povoado começou a figurar na política municipal de Jardim, sendo escolhido para representá-lo junto aos chefes do Partido Conservador daquela cidade, o água-belense Basílio Gomes da Silva. A seguir foi criada a Freguesia, pela Lei Provincial n° 1.718, de 25 de julho de 1876, promulgada por Francisco de Farias Lemos, Presidente da Província. No ano imediato, porém, a florescência do distrito seria perturbada pela seca de 1877 e por bandos de cangaceiros provenientes, principalmente, da Paraíba e da vila de Milagres. Alguns aspectos daqueles tempos sombrios estão registrados no “Livro do Tombo”, pelo padre Francisco Lopes Abath, o primeiro vigário da freguesia, empossado em 02 de setembro daquele ano calamitoso. Naqueles velhos tempos, Brejo Santo era o lugar mais preferido pelos bandoleiros que infestavam o Cariri, por motivo de suas condições naturais.
No dia 29 de julho de 1884, Brejo Santo recebeu a visita de Dom Joaquim José Vieira, segundo Bispo do Ceará, cujo secretário, padre Belarmino José de Sousa, retratou a real situação do povoado num livro de memórias.
Com a criação da vila de Porteiras, o distrito passou a pertencer aquele Município. Mas nesse tempo, Brejo Santo já estava a um passo de sua emancipação política, cujo advento foi abreviado pelas novas condições criadas pela proclamação da República. Realmente, no dia 05 de novembro de 1890, às 10 horas, foi instalada a vila de Brejo dos Santos, por força do Decreto Estadual n° 49, de 26 de agosto do mesmo ano, sendo o Conselho de Intendentes formado dos seguintes membros: Lourenço Gomes da Silva, Benevenuto Bezerra da Paixão, José Florentino de Araújo e José Moreira Tavares, cabendo a chefia do executivo municipal ao primeiro, tudo por indicação de Basílio Gomes. De acordo com recenseamento de 1890, a população somava 3.091 habitantes.
O desenvolvimento de Brejo Santo acentuou-se em 1893, quando já estava em franco funcionamento a Agência dos Correios, Coletoria Estadual e Delegacia de Polícia, à frente das quais se achavam, respectivamente, João Gomes da Silva Basílio, Antônio Silião Bispo e Manoel Inácio dos Santos.
Naquele ano, assumiu o cargo de Intendente Municipal (Prefeito), o coronel Basílio Gomes da Silva, no qual se manteria até 1909. Na Divisão administrativa de 1911 consta o Município composto de um único distrito, o da Sede, assim continuando no recenseamento de 1920.
Durante esse período, o Município viveu à margem das agitações políticas que tanto inquietaram a região do Cariri. Os choques de interesses, porém, tão comuns às vilas sertanejas, terminaram modificando o ambiente de tranquilidade que envolvia a próspera comuna. Assim é que, a 13 de junho de 1915, cerca de 300 homens marcharam de Brejo Santo para Porteiras, onde efetuaram a deposição do chefe local, o coronel Raimundo Cardoso dos Santos, após cerca de onze horas de cerrado tiroteio.
Logo depois, de ordem do Presidente do Estado, Benjamim Barroso, uma força de 500 praças da polícia, ao comando do Cel. Ernesto Ramos de Medeiros, ocupava Brejo Santo e ali permanecia nada menos que três meses numa campanha sistemática de desarmamento. O caso de Porteiras não teve maiores consequências, e a tranquilidade voltou a reinar no Município.
Restabelecida a ordem no interior do Estado, Brejo Santo partilhou da relativa paz de espírito que caracterizou os primeiros tempos do período governamental do Dr. João Tomé de Sabóia e Silva, retomando, aos poucos, sua evolução econômica e social. Já em 1917, é instalada solenemente a Agência Telegráfica, seguida da fundação de uma banda de música, hoje a centenária Banda de Música Maestro Olívio Lopes Angelim, tombada como Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Município; e do Tiro de Guerra n° 421. Simultaneamente, nasce o Colégio São José, por iniciativa do ex-seminarista Joaquim Gomes da Silva Basílio.
Quanto à população, em que pese à imperfeição do recenseamento, atingiu à cifra de 5.617 habitantes em 1920. Naquele ano havia 171 estabelecimentos rurais distribuídos entre 134 proprietários. Havia 2.400 lavradores, 2.000 roçados, 01 sítio de cana de açúcar, 01 motor a vapor, 10 aviamentos para farinha, 01 prensa de algodão, 04 açudes, 02 teares a mão, 1.600 casas, 01 máquina de descaroçar algodão, e 06 casas comerciais. (Cfr. Dr. Th. Pompeu, O Ceará no Centenário da Independência do Brasil).
A partir de 1920, apesar dos fatores negativos inerentes ao meio sertanejo, Brejo Santo começou a destacar-se na região, graças, sobretudo, ao dinamismo do seu povo, tornando-se nos dias atuais, depois de Juazeiro do Norte e Crato, o Município mais próspero do Cariri.
Pelo Decreto Estadual n° 193, de 20 de maio de 1931, o município de Brejo dos Santos é constituído de 02 distritos: Sede e Conceição do Cariri (atual Porteiras), permanecendo em divisões territoriais pelos Decretos n° 1.156, de 04 de dezembro de 1933. Pelo Decreto Estadual nº 448, de 20 de dezembro de 1938, o município de Brejo dos Santos passou a denominar-se Brejo Santo e o distrito de Conceição do Cariri para Porteiras. Em divisão territorial datada de 1° de julho de 1950, o município, já denominado de Brejo Santo, é constituído de 02 distritos: Brejo Santo e Porteiras (ex-Conceição do Cariri). Pela Lei Estadual nº 1.153, de 22 de novembro de 1951, desmembra do município de Brejo Santo, o distrito de Porteiras, elevado à categoria de Município. Sob a mesma Lei citada, são criados os distritos de Poço e São Felipe e anexados ao município de Brejo Santo. Em nova divisão territorial datada de 1° de julho de 1960, o Município é constituído de 03 distritos: Sede, Poço e São Felipe.
Verbete de autoria do capitão Otacílio Anselmo e Silva, publicado no Dicionário Geográfico e Histórico do Ceará, B-C; págs. 140 a 145; Imprensa Universitária do Ceará; Fortaleza; 1967. Revisado e atualizado pela Secretaria de Cultura, Turismo e Eventos.